- Ludmilla, com dois éles - Chegou dando nome e quase sobrenome, a mulher do Rogerinho. Radiante, cabelo brilhante, vestido vermelho, quase flamejante. Bonita que dá nojo. Raiva. Ódio. Que ódio.
Entrou, sentou, disse não para todos os petiscos - Só uma água, por favor - Por favor, quem bebe 'só uma água' numa mesa de bar, nesse calor senegalês?
- Saúde!
Enquanto ouvia as piadas sem graça dos amigos dos tempos de escola dos nossos maridos, sorriu pra mim. Tarefa difícil essa de parecer empolgada com a pauta dos rapazes, já que homens em grupo se comportam como adolescentes, além de serem monotemáticos: escatologias, videogame, futebol e pornô. Ludmilla me parecia entediada. Quis ser legal:
- Calor, né? Cadê o inverno?
- Ah, é, né? Imagina no verão? - Ajeitou o cabelo enroscado no brinco de argola. Gente, quem usa argola hoje em dia? Ok, eu. Mas, vou parar de usar. Hoje.
- Eu gosto de calor, sabe? Mas me dá uma moleza. E a academia? tento ir, pelos menos 3 vezes na semana, mas tenho taaaaanta preguiça.
- Ai, academia é martírio. Eu corro. De lá. - Eu ri. De mim. Sou uma piada. Ela também riu, certamente da minha desgraça. Corro 5 km, faço 6 repetições de 10 naquele troço que te dobra no meio, fortaleço a pança. Se não malho e bebo, só me resta fortalecer a pança. Que seja. Essa Ludmilla linda, loira e ainda não malha. Vou dar uma chinelada nela, me segura.
- Sabe, eu tento malhar. Mas sempre aparece algo para me desvirtuar. Só este ano já participei de 3 congressos, não dá para conciliar.
Congresso de que, fia? Quase pensei alto e virei num gole só minha cerveja que criava dengue no copo. Ela continuou:
- Trabalho com crianças especiais, portadoras de uma síndrome rara. Sou neurologista.
Gostosa sem esforço e médica ativista que ajuda criancinhas. Que morte horrível estou tento hoje.
- Garçom? Por favor, tem Boazinha? - Aquela, que de boazinha não devia ter nem o sobrenome, quem dirá o nome. Porre dos 30. - Traz a garrafa, moço.
- E você? Trabalha com o quê? - Disfarçando a tensão com a minha boazinha, a boazuda quis continuar o tête-à-tête.
- Eu? Sou psicóloga.
- JURA? - Até meu marido se voltou pro canto da mesa. A reação da loira, aparentemente impressionada com a minha profissão, parecia forçosa.
- É, sou - E tímida. Obrigada.
- Adoro falar de mim. Todo mundo tem uns draminhas, né? Quero fazer terapia. Acho que seria bom. Que cê acha?
- É... tem. Acho bom, acho ótimo. - Nem o amor pela minha profissão me faria ter empatia por aquela criatura maravilhosa. Levantei, ajeitando o vestido - Vou fumar, Fernando.
- Mas, já, Lú? - Fazia menos de 10 minutos desde o último, ele deve ter reparado.
- Lu? - A loiruda além de linda, era intrometida.
- É, Ludmila. Com um éle só.