terça-feira, 20 de janeiro de 2015

.: (Alter) EGO:.


- Ludmilla, com dois éles - Chegou dando nome e quase sobrenome, a mulher do Rogerinho. Radiante, cabelo brilhante, vestido vermelho, quase flamejante. Bonita que dá nojo. Raiva. Ódio. Que ódio.
Entrou, sentou, disse não para todos os petiscos - Só uma água, por favor - Por favor, quem bebe 'só uma água' numa mesa de bar, nesse calor senegalês? 

- Saúde!

Enquanto ouvia as piadas sem graça dos amigos dos tempos de escola dos nossos maridos, sorriu pra mim. Tarefa difícil essa de parecer empolgada com a pauta dos rapazes, já que homens em grupo se comportam como adolescentes, além de serem monotemáticos: escatologias, videogame, futebol e pornô. Ludmilla me parecia entediada. Quis ser legal:

- Calor, né? Cadê o inverno?

- Ah, é, né? Imagina no verão? - Ajeitou o cabelo enroscado no brinco de argola. Gente, quem usa argola hoje em dia? Ok, eu. Mas, vou parar de usar. Hoje.

- Eu gosto de calor, sabe? Mas me dá uma  moleza. E a academia? tento ir, pelos menos 3 vezes na semana, mas tenho taaaaanta preguiça.

- Ai, academia é martírio. Eu corro. De lá. - Eu ri. De mim. Sou uma piada. Ela também riu, certamente da minha desgraça. Corro 5 km, faço 6 repetições de 10 naquele troço que te dobra no meio, fortaleço a pança. Se não malho e bebo, só me resta fortalecer a pança. Que seja. Essa Ludmilla linda, loira e ainda não malha. Vou dar uma chinelada nela, me segura.

- Sabe, eu tento malhar. Mas sempre aparece algo para me desvirtuar. Só este ano já participei de 3 congressos, não dá para conciliar. 

Congresso de que, fia? Quase pensei alto e virei num gole só minha cerveja que criava dengue no copo. Ela continuou:

- Trabalho com crianças especiais, portadoras de uma síndrome rara. Sou neurologista.

Gostosa sem esforço e médica ativista que ajuda criancinhas. Que morte horrível estou tento hoje.

- Garçom? Por favor, tem Boazinha? - Aquela, que de boazinha não devia ter nem o sobrenome, quem dirá o nome. Porre dos 30. - Traz a garrafa, moço.

- E você? Trabalha com o quê? - Disfarçando a tensão com a minha boazinha, a boazuda quis continuar o tête-à-tête.

- Eu? Sou psicóloga. 

- JURA? - Até meu marido se voltou pro canto da mesa. A reação da loira, aparentemente impressionada com a minha profissão, parecia forçosa.

- É, sou - E tímida. Obrigada.

- Adoro falar de mim. Todo mundo tem uns draminhas, né? Quero fazer terapia. Acho que seria bom. Que cê acha?

- É... tem. Acho bom, acho ótimo. - Nem o amor pela minha profissão me faria ter empatia por aquela criatura maravilhosa. Levantei, ajeitando o vestido - Vou fumar, Fernando.

- Mas, já, Lú? - Fazia menos de 10 minutos desde o último, ele deve ter reparado.

- Lu? - A loiruda além de linda, era intrometida.

- É, Ludmila. Com um éle só.





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Sou aquela que dança quando a música acaba.